Porsche híbridos - a origem das das espécies - Lohner 1901

Numa altura em que muito se tem divagado sobre os híbridos a comercializar pela Porsche, sem ser exaustivo e mesmo não trazendo nada de novo,
aqui fica uma breve história da “origem das espécies”, i.e. o primeiro híbrido Porsche.
Jacob Lohner & Co. Era, no final do Sec. XIX, um reputado construtor de carruagens, fornecendo para além da casa imperial austríaca os reis da Suécia, Noruega e Roménia.
Em 1896 Lohner, a exemplo de alguns seus congéneres, resolve lançar-se na construção de automóveis. Contudo na sua opinião, os motores de combustão interna eram inadequados por demasiado complexos e ruidosos, pelo que o seu carro deveria ser movido a electricidade. Daí que a sua escolha para projectista tenha recaído sobre Ferdinad Porsche, à época um jovem técnico em ascensão na “Bela Egger” (empresa que produzia equipamento e máquinas eléctricas).
Com apenas 23 anos Porsche era já conhecido por ter uma espécie de sexto sentido para a inovação e a técnica e as suas soluções, apesar saírem frequentemente do convencional, eram respeitadas e apreciadas pelos seus pares e empregadores.
O primeiro Lohner foi desenhado no Outono de 1899 e é este mesmo carro que é exibido no pavilhão austríaco da Exposição Mundial de Paris de 1900, despertando o maior interesse e curiosidade em seu redor.

O automóvel da exposição de Paris, apresentado como “System Lohner-Porsche” tinha dois motores eléctricos nos cubos das rodas (sistema patenteado por Porsche em 1897), produzindo cada um deles 2,5HP, às 120 rpm, podendo ser levados até aos 7HP por períodos de até 20 minutos sem aquecimento excessivo.
A energia era fornecida por uma bateria de 44 células e 80 Volts, o que autorizava uma autonomia próxima das 3 horas. (ou perto de 50 km)
O seu peso total não chegava aos 1000 kg, dos quais 400 kg para os acumuladores e cada conjunto roda-motor pesaria cerca de 115 kg.
A sua velocidade máxima andaria perto dos 40 km/h, podendo ser aumentada em competição para uns alucinantes 60km/h.




Conta-se que, ainda na exposição de Paris Jacob Lohner (do qual ainda não conseguimos apurar o parentesco com o administrador do Forum) instado a revelar a idade do manifestamente jovem criador de tão brilhante automóvel terá dito apenas “é muito novo mas é um homem com uma grande carreira pela frente. Vai dar que falar.”

A carreira desportiva do Lohner-Porsche começou pouco depois da exposição de Paris ao estabelecer o recorde da estrada de Semmering (10km de estrada poeirenta e com algumas curvas apertadas) em 23 de Setembro de 1900.
O Semmering Record que era, na época verificado oficialmente pelo Automóvel Clube Austríaco, tinha sido previamente estabelecido em 23 minutos e 27 segundos.

Com um carro desprovido de carroçaria (embora dotado de uma frente afilada, reveladora de incipientes preocupações aerodinâmicas) e apenas 2 lugares directamente sobre a caixa das baterias, conservava os motores colocados nos cubos das rodas dianteiras, era mais pesado do que o da exposição de Paris devido ao acréscimo de capacidade das baterias, rondando os 1120 kg.
Ferdinand Porsche gastou exactamente 14 minutos e 52.5 segundos, numa velocidade média superior a 40km/h.

A produção do Lohner tinha entretanto começado (viriam a ser comercializados mais de 300 unidades entre 1900 e 1906) e já um novo marco na história do automóvel era levantado por Ferdinand.


Sob encomenda de E. W. Hart, de Luton, era produzido o primeiro automóvel com tracção às 4 rodas. Para tal Porsche coloca desta vez os mesmos motores eléctricos também nas rodas traseiras. Para conseguir uma potência e autonomia suficientes eram necessários 1.800 kg de baterias e Mr. Hart pagou por ele a exorbitante quantia de 15.000 Coroas Austríacas, sensivelmente o dobro do preço de um Lohner “convencional”.

O passo seguinte já ocupava o espírito de Porsche desde bem antes da exposição de Paris. O peso exagerado das baterias e a reduzida autonomia podiam ser evitados se fosse utilizando uma espécie de gerador capaz de fornecer energia aos motores eléctricos existentes.


O resultado voltou a surpreender o Mundo no Salão Automóvel de Paris de 1901, ao apresentar aquilo a que chamou de “petrol-electric mixed cars”.
Utilizando um par de motores De Dion Bouton ou motores fornecidos pela Daimler, acoplados a dínamos, era possível carregar as bateria ou fornecer, em paralelo com estas, energia aos motores que continuavam colocados no eixo das rodas dianteira. Podia assim atingir maior potência e autonomia mantendo a facilidade e suavidade da tracção eléctrica.


Nascia assim o primeiro híbrido Porsche.



Como não podia deixar de ser o próprio Porsche pilotou um destes carros nas corridas de Exelberg, em 1902, conquistando o primeiro lugar na categoria até 1000kg e o terceiro na geral.



Mesmo Sua Alteza Imperial o Arquiduque Franz Ferdinand (o mesmo cujo assassinato em Sarajevo deu origem à primeira guerra mundial), depois de ter sido conduzido por Porsche durante umas manobras militares na Hungria fez mesmo saber a Porsche que “a performance do seu automóvel e a sua condução segura deram inteira satisfação a Sua Majestade Imperial”




Contudo a Lohner tornara-se demasiado pequena para Porsche, ao mesmo tempo que este se tornara demasiado caro para a Lohner pelo que gastava em protótipos experimentais, sem revelar grande interesse pela produção em série. Pelo que, com apenas 30 anos Porsche abandona a Lohner para ocupar o lugar de director técnico da Austro Daimler.

Muito bem!!

Um excelente trabalho

Muito bom

Este Forum está cheio de revelações...

Parabens por este excelente trabalho

Já há tempos tinha mandado um artigo da Auto Foco ao administrador sobre o tema, mas este seu post é fantástico.

Muito obrigado por melhorar o meu conhecimento...

Aceite o meu cumprimento

Parabéns, muito bom

Parabéns pelo Post.

De facto, muito bom.

Muito interessante, de facto a história do automóvel está cheia de capítulos fantásticos, e que convem ir lembrando ou sabendo.

Perfect! Só hoje é que o encontrei!!!...na altura em que o escreveu eu ainda gemia muito.
Para mim não foi uma revelação: eu sempre soube que o Ace era um Ás!

As coisas que eu aprendo neste fórum.
O Ace tem muito trabalhinho horas e paciência aqui investidos.
E eu na minha completa ignorância a pensar que os híbridos são uma modernice.
Obrigado por este pedaço de história.

O Lohner Porsche, a ser preparado e embrulhado, para ir ao Auto Show em Los Angeles



Embalagem termica para manter a temperatura

Para não estar a abrir outro topico, vou acreschentar neste topico do Ace mais dois hibridos da criação de Porsche:

O trem híbrido Landwher
O trem Landwher de 1912, mais uma criação de Porsche, usava propulsão híbrida. A unidade de tracção ("locomotiva") era equipada com um motor a gasolina de 100 cv ligado a um gerador de electricidade que alimentava os motores eléctrico instalados no cubo de cada uma das 4 rodas de cada vagão. Cada vagão podia ser desacoplado e dirigido individualmente, recebendo energia via um cabo conectado à unidade de tracção. Isto permitia que o trem cruzasse pontes fracas, um vagão de cada vez, e pudesse ser manobrado em espaços apertados. Durante a primeira Grande Guerra, estes trens viajavam em terrenos difíceis e podiam ser equipados com rodas especiais para circular em caminhos de ferro normais. O Landwehr a gasolina é considerado o primeiro trem híbrido.


O trem "C"
O trem "C", que sucedeu o Landwher tinha objectivos puramente militares, era equipado com uma arma de 81 toneladas e tinha 4 vagões. Cada vagão era equipado com 8 motores eléctricos instalados nos cubos das rodas e o tractor ("locomotiva") tinha um motor de combustão interna de 20 litros e 150 cv. Podia transportar até 150 toneladas de equipamentos.

Boa Marco, os "acreschentos" são sempre bem-vindos

E ainda há mais,

Por exemplo, que tal (agora que se aproxima a "época oficial dos incêndios"), os carros de Bombeiros?